A Escola e a sociedade caminham a passos largos para a transição digital. Um objetivo ambicioso, que envolve diferentes etapas, como a conetividade, a formação docente e da própria sociedade. Novas metodologias. A ideia foi debatida, no passado dia 10 de setembro, pela Comissária Europeia para a Economia e Sociedade Digital, Mariya Ivanova Gabriel, com um grupo de 10 docentes europeus, entre os quais participaram os portugueses Paulo Serra e Nuno Duarte, finalistas em 2020 e 2021 do Global Teacher Prize Portugal, respetivamente.
A importância de envolver toda a sociedade neste desígnio foi sublinhada numa reunião de trabalho, online, onde a questão do envelhecimento do corpo docente também esteve em cima da mesa.
Além de Paulo Serra e Nuno Duarte, a sessão de trabalho contou com a presença de professores da República Checa, Itália, Eslovénia e Eslováquia, também finalistas do Global Teacher Prize. A iniciativa foi promovida pela Comissão Europeia e pela Mentes Empreendedoras, promotora da Global Teacher Prize Portugal.
Mariya Ivanova Gabriel transmitiu a ideia que, na transição digital, o objetivo é incluir toda a sociedade, havendo uma grande preocupação com a conectividade, mesmo em escolas rurais. O objetivo é que ninguém fique para trás. “A Comissária destacou também o programa Erasmus +, a criação de 25 academias Erasmus até 2025, a constituição de um prémio europeu de inovação, e a necessidade de reforçar a qualidade dos conteúdos através de uma relação mais forte entre as empresas e a indústrias e os docentes”, refere Paulo Serra.
Os 10 professores aproveitaram a oportunidade para lançar quatro questões para o debate. “Sabemos que a educação ao longo da vida tem um grande impacto no bem-estar das comunidades e no seu desenvolvimento económico, contribuindo também para a coesão social e para a cidadania ativa. Por isso importa saber como se pode promover o acesso digital e a equipamentos para todos, desde as escolas tradicionais a outros contextos, como a educação nas prisões”, explica Paulo Serra.
O docente do Agrupamento de Escolas Nuno Álvares, que é coordenador da equipa da escola do Estabelecimento Prisional de Castelo Branco, abordou um tema sensível e que não deixa de ser complexo. Por um lado, os reclusos estão privados de qualquer comunicação ao mundo exterior, por outro há a formação. “Compreendemos a questão legal. Mas há alterantivas. Por exemplo, podemos ter sistemas com simuladores de ambiente real. Ou seja, ambientes virtuais fechados, só a funcionarem em intranet. Quando esses alunos saem da prisão poderão utilizar a mesma plataforma com acesso ao exterior”, diz.
No entender de Paulo Serra “a educação em ambiente prisional é uma medida de segurança pública”, além de que “aumenta o nível de empregabilidade dos reclusos”.
Outra das questões focadas prende-se com a necessidade de atrair jovens para a profissão docente. Hoje a escola tem um corpo docente envelhecido. Uma das ideias apresentadas passa por uma aposta na formação inicial de professores. Esta questão entronca numa outra que está relacionada com o esgotamento profissional dos docentes. “É uma matéria que não é só nossa. Todos estão preocupados com o síndrome de Burnout (caracterizado por exaustão física, emocional ou mental que surge geralmente devido à acumulação de stress no trabalho)”, adianta. “Na Europa estamos muito preocupados com as questões emocionais dos alunos. Mas agora surge a questão: e tu enquanto professor?”, diz.
A introdução da inteligência artificial nas escolas e o equilíbrio entre a tecnologia e o fator humano, foi também debatido. O mesmo sucedeu com o facto de se saber se há reotorno do investimento em tecnologias e informação face à qualidade de educação.