Investigadores ligados ao Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, realizaram um estudo sobre as espécies exóticas no estuário do Sado, recentemente publicado na revista científica Ecological Indicators. Estas espécies encontram-se fora da sua área de distribuição natural e foram introduzidas por ação humana.
Foram recolhidas 35 amostras de sedimentos do estuário do Sado em julho de 2015 e em maio de 2018, que foram estudadas em laboratório. Os resultados do estudo mostram que cerca de 4% do total das espécies identificadas são exóticas (3 espécies em 81). As três espécies exóticas são o quíton (Chaetopleura angulata), o caranguejo Dyspanopeus texanus e a amêijoa-japonesa (Ruditapes philippinarum).
O impacto negativo da presença destas espécies exóticas nos ecossistemas pode ocorrer quando este tipo de organismos entra em competição com as espécies nativas - naturais de uma determinada região - podendo levar à sua extinção. Paula Chainho, bióloga do MARE e coautora do estudo, debateu sobre este tópico na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal, no dia 2 de dezembro de 2020. A este propósito, referiu como exemplo o caso da amêijoa-japonesa que induziu uma redução da abundância da amêijoa-boa no estuário do Sado, uma amêijoa que tem um valor económico mais elevado do que a amêijoa-japonesa. Este sucesso competitivo está relacionado com a elevada taxa de reprodução da amêijoa-japonesa, que acaba por ocupar o espaço disponível.
Muitas destas espécies viajam acidentalmente por meio das águas de lastro (a água do mar captada pelo navio para garantir a sua segurança operacional e a sua estabilidade) e por incrustação, quando ficam presas ao casco das embarcações. Outras podem ser inseridas no meio aquático através do isco vivo importado usado por pescadores. Outras ainda são introduzidas a partir das instalações de produção de aquacultura.
Reverter o aumento crescente das espécies exóticas é essencial! As medidas de prevenção apontam para a necessidade de monitorização das águas de lastro, a não libertação de isco vivo na pesca desportiva e a redução de fuga de espécies em aquacultura.
Paula Chainho reforça que uma das formas de prevenir a introdução de espécies exóticas nas zonas de trocas comerciais marinhas passa pela limpeza das superfícies das embarcações em doca seca e não em doca aquática. A investigadora refere ainda que foi estimado um prejuízo mundial de 46,7 milhões de euros por ano para pescas e aquaculturas causado pela presença destas espécies.
Em Portugal, algumas medidas estão a ser tomadas, com a aprovação da Convenção Internacional para o Controlo e Gestão das Águas de Lastro e Sedimentos dos Navios em setembro de 2017 (Decreto n.º 23/2017).
Para sensibilizar a sociedade e decisores políticos sobre a problemática e a sua devida prevenção está a ser desenvolvido o projeto LIFE INVASAQUA nas plataformas sociais Twitter, Facebook e Instagram com o #lifeinvasaqua, para divulgar informações sobre as espécies exóticas invasoras aquáticas na Península Ibérica. É importante também que cada cidadão, a nível individual, cuide de preservar a biodiversidade. Pense duas vezes antes de deitar ao rio os peixes do aquário que tem em casa e contribuir para o aumento das espécies exóticas!