A presidência dos Estados Unidos da América cancelou o financiamento que seis universidades portuguesas estão a receber ao abrigo do programa American Corner. Donald Trump e a sua equipa querem saber se aquelas academias têm relações com entidades associadas a partidos comunistas, socialistas ou totalitaristas. O Presidente do Conselho de Reitores, Paulo Jorge Ferreira, que também é reitor da Universidade de Aveiro, acha isso intolerável.
O pedido, insólito, faz parte de um questionário que foi enviado, pela embaixada americana em Portugal, àquelas instituições de ensino superior. Os Estados Unidos querem ainda saber que medidas adotam as universidades portuguesas para preservar as mulheres das ideologias de género.
A falta de resposta, por parte das universidades portuguesas, às questões levou a administração Trump a cancelar o financiamento. Em Portugal são seis as academias que aderiram ao programa “American Corner”. Um projeto que tem permitido, num espaço próprio, a realização de palestras, conferências e atividades de cariz científico. Além de Aveiro e do Técnico, também as universidades de Lisboa (Faculdade de Letras), Porto, Açores e Nova de Lisboa integram essa rede.
A atitude da nova administração americana não surpreende. Donald Trump domina todo o aparelho institucional e judicial dos Estados Unidos. Faz o que quer, sem que internamente, haja quem lhe possa colocar um travão. Externamente a Europa tarda em definir o seu caminho.
Na prática, com as universidades portuguesas, procurou exercer a tática de humilhar o próximo. Já o tinha feito com o presidente da Ucrânia. Com as tarifas alfandegárias está a fazê-lo com muitos países, dizendo que eles já lhe estão a ligar, qual cordeirinhos, a querer negociar. Faltava o ensino, a cultura e a educação.
Com a soberba que se lhe reconhece, a Casa Branca, através da sua embaixadora em Lisboa, Marie Blanchard, realça que os também chamados espaços americanos “demonstram o poder inigualável dos Estados Unidos como líder económico e de inovação".
Que bem estiveram as universidades portuguesas que não responderam. É certo que há um grande subfinanciamento do nosso Orçamento de Estado para as instituições de ensino superior portuguesas. Mas há valores maiores: a dignidade, a seriedade, a independência, o pensamento. O pensamento de cada um. E quando isso é posto em causa, nos termos em que os mais ricos dizem aos mais pobres para baixar a cabeça, só há um caminho: não ceder. Confesso que esta questão mexe comigo. Aos 23 anos, e já com sete como jornalista profissional, o então diretor da publicação em que eu trabalhava, disse-me, a mim e um camarada de armas, à frente de toda uma redação, que eramos pobres e que por isso tínhamos que obedecer cegamente ao que nos era pedido. Não cedemos e viemos embora. Foi o começo da bonita história do Ensino Magazine e da RVJ.
Significa isto que o facto de sermos menos abonados não nos retira o direito de sermos sérios, honestos, ambiciosos e, acima de tudo, de preservarmos valores e de pensarmos pelas nossas cabeças. Que a coragem das universidades portuguesas se transforme em novas oportunidades, pois devem ser as academias a definir o seu caminho. Da nossa parte estaremos sempre ao dispor das instituições de ensino superior para, juntos, caminharmos sem medo do que vem do outro lado do rio...