Vasco Lourenço, um dos capitães da “revolução dos cravos”, referia, com propriedade, que o Papa Francisco defendeu os valores de Abril: democracia, igualdade, justiça, inclusão, educação para todos, dar voz aos mais pobres, solidariedade.
Não poderia estar mais de acordo. Jorge Mario Bergoglio, o homem que, como sublinhou no início do seu papado, “veio do fim do mundo”, mostrou a sua simplicidade, resiliência e o espírito agregador e de inclusão.
Foi um transmissor de esperança e um construtor de pontes, não temendo as palavras. O seu pontificado fica marcado pelo combate aos abusos sexuais dentro da Igreja. Ao invés de esconder essa dura realidade, enfrentou-a de frente. Pediu desculpa a quem foi abusado – como aconteceu nas Jornadas Mundiais da Juventude, em Lisboa -, mostrando determinação. Mudou todo um paradigma.
“Nenhum abuso deve jamais ser encoberto e subestimado, pois a cobertura dos abusos favorece a propagação do mal e eleva o nível do escândalo”, disse aos cardeais, bispos e líderes de conferências episcopais, numa reunião realizada em Roma, conforme noticiou a Agência Lusa. Esta posição aproximou a comunidade da Igreja. Sem tabus, o Papa Francisco foi claro e objetivo, iniciando um processo ainda em curso e que se espera prossiga a bem da justiça.
Francisco nunca fechou as portas da Sua Igreja a ninguém. Abraçou todos. Gente de credos diferentes, divorciados, homossexuais, transsexuais. “Abençoam-se as pessoas e não as relações”, escreveu no seu livro autobiográfico Esperança. As mulheres passaram, também elas e de uma forma justa, a serem indicadas para cargos de poder no seio da Igreja. Organizou ainda o seu ‘governo’ tendo em conta as questões sociais e o apoio aos menos favorecidos. Um exemplo.
Ao abrir portas a ‘Todos’ trouxe uma nova energia para o seio da Igreja Católica. Francisco não deixou ninguém de fora. Combateu a endogamia social. Ao invés de fechar o seu papado sobre si próprio, levou-o ao mundo. As instituições de ensino superior devem olhar para este exemplo como um caminho para o futuro.
Não é admissível que as “Universidades” promovam uma evolução endogâmica e, muitas vezes, exclusiva, devido a interesses corporativos que as condicionam naquilo que é a sua função. Não se compreende como as casas do saber, apesar de muito já ter mudado e de se registar uma maior abertura destas para com a sociedade, continuam a olhar para o seu umbigo como se fosse o mais bonito do mundo; e como muitos dirigentes criam barreiras a muitos dos seus próprios estudantes, só porque interesses corporativos (ou comerciais?) se sobrepõem àquilo que deve ser o papel do ensino superior público. E se por si este facto é grave, torna-se superlativo quando o mau exemplo vem de quem até forma jovens que poderão seguir a carreira na diplomacia ou nas relações internacionais.
Esperemos que os estudantes e as universidades saibam olhar para o exemplo do Papa Francisco. Só assim teremos instituições de ensino competentes e competitivas, abertas e inclusivas, capazes de pensar o mundo com os valores de Abril...