Os rankings das escolas voltam a estar na ordem do dia, sobressaindo para a opinião pública que esta escola é melhor que aquela, que o ensino privado é superior ao público, e mais uma série de perceções que a sociedade absorve como verdades absolutas. Já o afirmei, e volto a referi-lo: Os rankings tal como são divulgados junto da comunidade podem ter um efeito nefasto e perigoso, na medida em que rotulam escolas, e por conseguinte alunos, professores e funcionários, sem que se tenham em conta todos os dados da balança.
Aliás, o elemento principal são as notas dos exames. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, fazendo uma analogia com o desporto rei, diz que apenas são avaliados os penaltis. Como se toda a preparação, formação e o jogo ao longo da época não interessassem.
De uma forma simples, elaboram-se tabelas, tendo em conta resultados nos exames e as notas dos alunos, esquecendo-se tudo o resto. Mas afinal qual é a melhor escola? É esta a pergunta que surge anualmente quando são divulgados os resultados dos exames nacionais e, por conseguinte, são elaborados os rankings amplamente reproduzidos na comunicação social.
Será a melhor escola aquela que, num contexto escolar, social e económico adverso, localizada numa região deprimida ou num bairro problemático de uma qualquer cidade, consegue obter resultados escolares e sociais positivos, recuperando muitas vezes situações que pareciam impossíveis de ter solução? Ou será a escola inserida num cenário socioeconómico positivo, em que os pais dos alunos até têm possibilidade de pagar explicações aos seus filhos?
Os rankings das escolas, já o referi e refirmo-o, apresentados da forma como o são pela comunicação social, constituem um instrumento enganador para a opinião pública, influenciando-a na escolha do futuro dos jovens, denegrindo muitas vezes trabalho sério e eficaz, vangloriando resultados que por vezes não se sabe se resultam apenas do que é feito nas escolas, ou se vai para além disso, através de reforço externo aos alunos (vulgo explicações).
Mas, mais do que isso, revelam desconhecimento do país real, das escolas portuguesas e do seu funcionamento. Denotam, na análise, ligeireza. Divulgar a nota dos exames e a média conjugada com os resultados finais obtidos pelos alunos quer dizer isso mesmo. Nada mais do que isso.
Os rankings devem constituir um instrumento de trabalho para as escolas, para os agrupamentos e, porque não dizê-lo, para os mega agrupamentos, que cada vez mais são um conjunto de mega problemas, que não conseguem dar resposta às exigências das instituições de ensino. Os resultados devem ser um instrumento de reflexão e de análise à realidade de cada estabelecimento de ensino, do meio em que está inserido e da comunidade que serve.
Infelizmente, a questão continua a ser tratada com a ligeireza de quem faz a soma de 1+1. É fácil ir aos resultados dos exames e escalonar as escolas cujos alunos obtêm melhores resultados nos exames. É uma análise simplista que se encerra em si mesma. Uma avaliação que esquece tudo aquilo que a escola representa, o espaço em que ela está inserida, a sua comunidade, os projetos educativos etc. Como se fosse justo, comparar os resultados de uma escola com uma comunidade educativa sem problemas de maior, com uma outra que no seu seio até tem alunos oriundos de meios problemáticos, tendo por isso mais dificuldade em ter tanto sucesso nos exames como outros alunos. Uma escola que, ainda assim, conseguiu criar condições para que esses alunos tivessem aproveitamento escolar.
Todavia, a conversa continua a ser a mesma. Todos os anos, mais ou menos por esta altura, os telejornais abrem o noticiário dizendo que a melhor escola é… O pior de tudo isto é que a informação acaba por condicionar o pensamento de um povo já de si gasto com a desinformação política a que tem sido sujeito.
A escola, os professores, os alunos, a comunidade educativa e todos nós merecemos mais. Não queremos que a partir de Lisboa, sem se conhecer o todo nacional, se elaborem classificações e se publiquem rankings como se o país fosse todo igual. Como também não queremos que o provincianismo potencie essas análises que não espelham a realidade. Mas afinal qual será a melhor escola? É a que converte mais ou menos grandes penalidades?