O início do ano letivo no ensino superior volta a trazer para a mesa a discussão da falta de alojamento para os estudantes deslocados. A situação não se restringe apenas às grandes cidades, mas praticamente a toda a rede de ensino superior portuguesa. A pouca oferta que existe além de cara, na sua maioria, tem poucas condições. Com frequência é recusado, pelos proprietários, passar o recibo dessa renda, o que prejudica o Estado e, duplamente, as famílias, exigindo contudo cauções e mensalidades adiantadas.
O sonho de muitos estudantes concluírem o curso para o qual concorreram e no qual por mérito académico entraram, tem no alojamento um obstáculo que nem sempre é ultrapassado. É reconhecido o esforço que a tutela está a fazer para no futuro ter mais residências para alunos (o objetivo é até 2026 intervir em mais de 15 mil camas), mas o presente continua complicado e, em muitos casos, sem solução.
O cenário não é novo e denota falta de investimento por parte do Estado numa área tão delicada como decisiva, mas também do Poder Local. Nem todas as câmaras municipais souberam, ou sabem, lidar com o problema. O não ter visão daquilo que pode ser o futuro das suas regiões e do país passa por estes pequenos grandes detalhes. Os estudantes deslocados só vão estudar se tiverem alojamento e só se irão fixar nesses territórios se houver habitação disponível. Simples.
A capacidade de olhar o presente e preparar o futuro não admite pensamentos restritivos, nem contabilidade de loja de bairro. Exige ousadia, visão estratégica e comunhão de responsabilidades entre todos. Não é legítimo que por causa de incompatibilidades políticas e de ideais se coloque em causa o futuro do país. Porque é da formação e da qualificação dos nossos jovens que estamos a falar.
O problema do alojamento estudantil afeta todos. Desde logo as famílias de fracos rendimentos que tendo a possibilidade de aceder à ação social e às residências que as instituições disponibilizam, nem sempre encontram soluções. Mas é a classe média a mais afetada, cujos rendimentos a impossibilita de se candidatar a apoios sociais e, ao mesmo tempo, não lhe permite pagar valores que podem chegar aos 600 euros mensais por quarto. São preços elevadíssimos que os orçamentos familiares, já prejudicados pelo aumento das taxas de juro, das prestações da casa e da inflação, nem sempre aguentam.
Não são as propinas que podem levar os alunos a não prosseguirem os estudos, pois, tabeladas pelo Estado, são um mal menor quando comparadas com os custos do alojamento e do contexto económico. Neste cenário, realço o facto de algumas instituições de ensino superior procurarem encontrar soluções através dos seus serviços de ação social muito para além daquilo que são as camas disponíveis nas suas residências.
A falta de alojamento, infelizmente, tem sido uma questão recorrente que ao longo dos anos se tem agravado. A rede de residências universitárias não acompanhou a evolução do ensino superior e da sociedade. O ponto de rotura foi atingido e com ele os estudantes, aqueles cujas famílias conseguem suportar os preços, são ainda assim confrontados com más práticas no aluguer de quartos por proprietários, que sabendo da escassez da oferta, assumem que podem fazer tudo. E assim a coisa vai andando. Enquanto o Estado, autarquias locais, instituições e iniciativa privada (cumpridora das regras), não conseguirem ser solução, muitos estudantes vão continuar sem saber onde poderão estudar e, sobretudo, dormir sobre o sonho de prosseguirem a sua formação no curso que escolheram…