Aos 19 anos, Diogo Ribeiro sagrou-se campeão do mundo de natação em 50 e 100 metros mariposa. No Qatar bateu recordes e tornou-se no primeiro português a alcançar tal feito. No regresso a Portugal reclama por mais apoios para os atletas e para a modalidade.
O jovem nadador Diogo Ribeiro conquistou duas medalhas de ouro nos Campeonatos do Mundo de Natação que se realizaram no Qatar este mês de fevereiro. Com 19 anos de idade, o atleta do Benfica conquistou o ouro nos 50 e 100 metros mariposa. No regresso a Lisboa prometeu mais trabalho, já a pensar nos Jogos Olímpicos.
“Sempre foi um sonho chegar lá [aos Jogos Olímpicos], agora pode é ser cada vez mais um objetivo e é isso que está a começar a ser. Não são só estas medalhas que vão ditar o futuro. Tenho de continuar a trabalhar e a ser humilde. Sempre que ganho medalhas, continuo a trabalhar, eu quero sempre mais. Enquanto não chegar a medalha olímpica, eu não vou parar de trabalhar”, disse à chegada ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
Diogo Ribeiro sagrou-se campeão mundial nas vertentes de 50 e 100 metros mariposa, nos Mundiais aquáticos que decorreram em Doha, no Qatar, depois de já ter sido vice-campeão do mundo nos 50 metros mariposa na última edição, em Fukuoka, no Japão.
“Se há um ano, quando ganhei a medalha de prata em Fukuoka, me dissessem que ia ser duas vezes campeão do mundo na próxima edição, eu diria que estava a sonhar. É incrível. Ter 19 anos e saber que ainda posso melhorar só me deixa mais felicidade e garra para trabalhar mais e atingir melhores coisas”, disse.
Com as duas medalhas de ouro ao peito e uma bandeira de Portugal nas costas, Diogo Ribeiro considera que ainda não tem noção do feito histórico que alcançou, dedicando os triunfos maioritariamente ao seu pai, falecido quando tinha apenas quatro anos, e com quem fala bastante, o que lhe dá força para se ‘transformar’ e vencer nas provas.
“Continua tudo a mesma coisa. Gosto que cada vez mais digam que sou um ídolo e que as pessoas me vejam a nadar. Não me cabe na cabeça o que sou e que tenho medalhas de ouro num campeonato do mundo. Para mim, é como se fosse um ouro no regional. Realmente ainda não compreendi o que isto quer dizer mesmo”, frisou, entre sorrisos.
Diogo Ribeiro revelou ainda uma peripécia com a medalha de 50 metros mariposa, que encontrou partida. “Dormi com a medalha debaixo do travesseiro e no dia seguinte esqueci-me dela lá. Quando, na noite seguinte, me fui deitar a medalha estava lá, mas partida, eventualmente porque as empregadas de limpeza a deixaram cair, mas consegui trocá-la e receber outra, que a emoldurarei”disse, apelando ainda a mais apoios governamentais e patrocínios para promover a natação.
“Não há muitos apoios. Antes ainda era pior, desde o ano passado que já se vêem ligeiras mudanças, mas acho que é preciso investir mais nesta modalidade, que é a mais vista nos Jogos Olímpicos. É uma tristeza não receber ajuda pela medalha dos 50 metros mariposa por não ser uma prova olímpica, mas estamos a falar de um Campeonato do Mundo. O prémio dos 100 metros mariposa vai ser o primeiro prémio governamental que vou receber. Isso deixa-me triste, mas continuo a lutar e a ser quem sou”, realçou.
O treinador Alberto Silva apontou “uma carreira muito grande pela frente”, mas com a preocupação de “sempre cobrar mais e ter um bom ambiente”, uma vez que precisará de sacrificar algumas coisas para poder continuar a estar na elite da natação mundial.
“Já sabemos que talento ele tem, mas, num momento, só o talento não vai chegar. Vai doer, será um sacrifício, vai ter de fazer coisas que não gosta, mas no fim do dia, tem de chegar a casa cansado, mas feliz e motivado para voltar no dia seguinte. Se ele fizer isso, com o talento que tem, vai ter uma carreira longa na elite”, assumiu Alberto Silva.
Aos 19 anos, Diogo Ribeiro é o maior ‘fenómeno’ da história das piscinas portuguesas, ficando ‘apenas’ a faltar uma final olímpica, que só Alexandre Yokochi conseguiu, mas tendo já presença garantida em Paris2024, a que chegará com esperança de medalha. Mas competir a um nível tão elevado exige muito trabalho, dedicação e sacrifício. A história de Diogo Ribeiro tem muito de tudo isso, mas também de determinação, foco e resiliência. Aos quatro anos perdeu o pai (em sua memória tatuou a estrela de David no ombro direito). Há três anos atrás sofreu um acidente grave de moto, que o deixou com hematomas em todo o corpo, queimaduras nas pernas, o ombro direito deslocado e um pé fraturado. Perdeu ainda um dedo indicador, que viria a ser reconstruído.
Diogo Ribeiro é ainda recordista mundial júnior dos 50 metros mariposa, o nadador soma ainda três ‘ouros’ em Mundiais júnior, um bronze em Europeus sénior, nos 50 mariposa em Roma2022, e títulos em Jogos do Mediterrâneo e outras provas, além de quatro recordes nacionais.