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Joaquim Brigas, presidente do Politécnico da Guarda Politécnico da Guarda uma instituição ao serviço de toda a região

19-01-2023

O Instituto Politécnico da Guarda está empenhado em levar ofertas formativas a outros concelhos do distrito. Em Foz Côa já funciona um Curso de Técnico Superior Profissional (Ctesp), numa parceria com a autarquia local, e para São João da Pesqueira está previsto outro. Joaquim Brigas, presidente do IPG fala de uma instituição dinâmica e com forte ligação ao tecido empresarial e ao território.
Em entrevista, anuncia também a abertura de novas ofertas formativas em biotecnologia e nas áreas da educação e intervenção social.

Recentemente o Politécnico da Guarda (IPG) anunciou a criação de uma formação específica para o Centro de Inovação Social que vai abrir na Guarda. O que é que se pretende com essa oferta formativa e quando irá entrar em funcionamento?
Irá entrar em funcionamento este ano. A abertura do Centro é uma iniciativa do Governo, através do Ministério da Segurança Social liderado por Ana Mendes Godinho. De referir que o Politécnico da Guarda marcou posição nessa área, uma vez que se trata da capacitação e recapacitação de recursos humanos. Inicialmente estavam o IEFP, o Centro de Estudos Ibéricos e uma Fundação. Nós mostrámos interesse em estar também presentes na primeira linha no desenvolvimento das ações concretas desse centro. Tudo o que estiver relacionado com a capacitação, recapacitação de recursos, através de pós-graduações, Ctesp, ou microcredenciações que exijam a certificação por parte de uma instituição de ensino superior, o IPG prestará o seu contributo. O Politécnico da Guarda tem vindo a afirmar-se como uma referência na área do envelhecimento, em diferentes domínios como a condição física em saúde ou a farmacologia, passando pela alimentação saudável, num processo que envolve as várias escolas do politécnico.

Outro curso que anunciou foi o Ctesp em Vila Nova de Foz Côa...
É um curso que já está a funcionar. Começámos o ano de 2023 com a descentralização da formação superior pelo território. Temos acordos com alguns municípios para avançar com formações. Foz Côa teve, por parte da sua Câmara, um grande empenho para começar já com o curso em Gestão de Alojamentos Turísticos. Esta descentralização resulta da ideia que temos, de um Politécnico ao serviço de toda a região, e através disso, promover o desenvolvimento do território de uma forma integrada. Pretende-se também ajudar à capacitação de recursos humanos que se encontram em vários concelhos do distrito e que não tinham disponibilidade de vir à Guarda fazer a formação. Aquilo que propomos, em articulação com as autarquias, é levar os cursos a esses locais. Vila Nova de Foz Côa é um exemplo que tem a particularidade de envolver também o Agrupamento de Escolas. Acredito que este curso será um sucesso e que contribuirá para levar o ensino superior mais além.

Esse alargamento a outros concelhos pode chegar a que territórios?
A todos aqueles que tiverem interesse em colaborar connosco. Temos preparada uma formação de Ctesp para funcionar em São João da Pesqueira, através de um acordo que temos com a escola profissional Esprodouro, na área da cozinha e produção alimentar.

E ao nível de outros ciclos de formação, está prevista a abertura de novas licenciaturas e mestrados no Politécnico da Guarda?
Estamos a trabalhar no sentido de apresentarmos mais formações em áreas em que há necessidade no mercado. Não apresentamos candidaturas de produtos puramente académicos se não houver interesse da parte do mercado. Essa é a condição fundamental, para darmos resposta a necessidades concretas do mercado. Queremos contribuir para o desenvolvimento regional e do país. Já apresentámos candidaturas na área da saúde, com a licenciatura em biotecnologia e o mestrado também em biotecnologia que servirá igualmente os licenciados em farmácia. Na área de educação e intervenção social está a ser trabalhada uma proposta para uma nova licenciatura. Alguns mestrados estão a ser discutidos com o envolvimento dos docentes e ouvindo os diferentes atores no território. O setor social é um dos que mais necessita das instituições de ensino superior para uma maior qualificação dos seus recursos.

O Politécnico da Guarda integra o Consórcio A23, com os politécnicos de Castelo Branco e Tomar. Que projetos estão em curso?
Este consórcio permite juntar os recursos das três instituições em dois domínios fundamentais como as competências digitais e proteção de pessoas e bens. Através de parcerias com diversos intervenientes dos territórios estamos a trabalhar para a recapacitação de recursos humanos. Temos como oferta as microcredenciações (cursos breves), pós-graduações, mas também Ctesp para a capacitação de jovens e não só. Com isto queremos dar resposta às necessidades destas regiões. A área da proteção civil é um caso bem evidente onde há uma enorme carência de formação de recursos humanos.
Neste momento temos a funcionar uma pós-graduação em media e proteção civil e estamos a desenhar cursos breves.

Ainda no que respeita à cooperação, o Politécnico da Guarda vai entrar para a universidade europeia UNITA. O que é que isso representa para a instituição?
Esta é uma rede de instituições de ensino superior situadas em regiões de altitude e de fronteira. Conjuntamente com os outros nove parceiros poderemos desenvolver ações que sozinhos não teríamos possibilidade de concretizar. Estas ações incluem a vertente formativa, com licenciaturas, mestrados e doutoramentos, mas também a componente da mobilidade de estudantes, funcionários e docentes. É um projeto muito ambicioso que trará bons benefícios. Estamos neste projeto há mais de um ano. A submissão da candidatura irá decorrer este mês e, em meados de 2023, esperemos ser membros de pleno direito na UNITA.

Mudando de assunto. A entrada de novos alunos para o Politécnico da Guarda neste ano letivo correspondeu à expetativas?
Correspondeu. Não podemos esquecer a área geográfica em que estamos inseridos, nem a concorrência de outras instituições. Temos conseguido, nos últimos três anos, estabilizar o número de candidatos no Concurso Nacional de Acesso que é praticamente o triplo do que existia há quatro ou cinco anos. Temos aprofundado parcerias no sentido de trazer mais estudantes internacionais e vamos continuar a trabalhar nessa linha, porque num país que tem a população muito envelhecida e que tem falta de jovens, temos que captar alunos lá fora. Isto para além de continuarmos a trabalhar para captar novos públicos no ensino superior.

A aposta pode voltar a passar pela Índia?
Pode voltar a passar pelos países asiáticos. Só não tivemos esses alunos este ano porque, depois de estarem inscritos e com as propinas pagas, circunstâncias particulares de denúncias anónimas levaram a um processo de investigação onde a conclusão do Ministério Público foi de que não havia qualquer motivo para suspeição (de práticas ilícitas). No entanto, essa decisão surgiu já depois da fase de candidaturas, pelo que tivemos que devolver 100 mil euros aos 70 alunos que já tinham pago as propinas para todo o ano. Foi um contratempo que tentámos compensar com outros acordos que fizemos, por exemplo com Cabo Verde. Mas não desistimos desta ideia, pois acreditamos que vai ser fundamental para resolver problemas da região e do país em áreas em que há uma grande carência, como engenharia civil e afins.

Recentemente o Secretário de Estado do Ensino Superior anunciou que iria ser alterado o acesso ao ensino superior. De que forma é que olha para essas declarações que vão no sentido da exigência de quatro exames para os alunos se candidatarem e também do aumento de vagas nos cursos com mais procura?
Olho para isso com preocupação. O Politécnico da Guarda está localizado numa região mais desfavorecida em termos demográficos e é uma instituição de pequena dimensão. Parece não fazer sentido a aplicação de determinadas medidas que contrariam aquilo que este Governo tem defendido no sentido da coesão social. Se se concretizarem estas medidas, com as grandes instituições do litoral a terem a possibilidade de meter mais alunos, será contrariado o processo de coesão territorial e fomentar largamente o desequilíbrio existente entre o litoral e o interior. Por isso, esta proposta será muito prejudicial para as instituições e discordamos totalmente delas.

Está a ser discutida na Assembleia da República a possibilidade dos politécnicos atribuírem o grau de doutoramento e de alterarem a sua designação para universidades politécnicas. Acredita que isso será uma realidade?
Seria bom que se acabasse com o estigma de instituições de primeira e de segunda classe, quando de facto, na realidade, isso não existe. As instituições de ensino superior politécnico nos respetivos territórios foram criadas no sentido de promoverem o seu desenvolvimento. Essa é a nossa principal missão. E todo o tipo de artifícios que se utilizem para terminar ou evitar a existência de estabelecimentos de ensino superior politécnico em cada distrito é prejudicial para o próprio território. De igual modo, alimentar a ambição de algumas instituições “engolirem” outras, só irá agravar o problema do desenvolvimento territorial equilibrado que se pretende. É preciso continuar a apostar na autonomia destas instituições e olhar para elas como entidades promotoras do desenvolvimento das regiões, em estreita interação com o tecido empresarial, cultural e social dessas mesmas regiões. As próprias instituições devem fazer esse exercício de se envolverem cada vez mais nesta relação com esses parceiros. Nós no Politécnico da Guarda temo-lo feito, por exemplo na área da logística, onde desenvolvemos formação em conjunto com as empresas, algumas de âmbito internacional; mas também através da candidatura do Politécnico da Guarda, com essas empresas, a um laboratório colaborativo.

Esse pode ser um bom cartão-de-visita para outras iniciativas semelhantes se concretizem?
É um bom exemplo da interação entre uma instituição de ensino superior e as empresas da região, algumas multinacionais, numa área específica. É fundamental replicar isso noutras áreas, nas quais já estamos a trabalhar, como acontece na biotecnologia.

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