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Bocas do Galinheiro O jovem Spielberg

24-01-2023

Estreou no passado mês, “The Fabelmans” (Os Fabelmens 2022), de Steven Spielberg, seguramente o filme mais pessoal do realizador, porquanto retrata a sua infância e juventude, desde muito cedo atraído pelo cinema, não só como espectador, mas, outrossim, como realizador. Foi esse o seu sonho de menino, o seu percurso na Sétima Arte o haveria de confirmar.
Nascido em Cincinnati, Ohio, a 18 de Dezembro de 1947, filho de Arnold Spielberg, engenheiro electrónico e de Leah Adler, pianista e concertista, Steven Spielberg cedo começou a filmar as viagens familiares com uma câmara que o pai havia comprado. Porém, como o progenitor não tinha muito jeito para o assunto, o jovem Spielberg ficou encarregue de fixar em película esses momentos, a que acrescentava encenações e efeitos especiais, com a intervenção das irmãs e dos pais. Tal como retratado nesta película, filmava acidentes com os comboios de brincar, que o seu pai pacientemente arranjava depois (Nesta fita recria uma cena que viu do filme de Cecil B. DeMille O Maior Espectáculo do Mundo). Daí até aos filmes a sério foram pequenos passos. Que na escola, quer depois na universidade da Califórnia filmou várias curtas metragens, algumas com algum sucesso. O primeiro sinal do que viria a ser o futuro Steven Spielberg acontece com uma curta metragem “Amblin”, financiada pelo seu amigo Dennis Hoffman (curiosamente a sua produtora chama-se Amblin), mas as curtas que fez em 8 m/m com a câmara familiar, juntando colegas e amigos como actores, para tal contribuíram. E é este seu percurso, o amor ao cinema e a veia cinéfila que viveu desde muito jovem que expõe neste Os Fabelmans, naquele que é sem dúvida o seu filme mais pessoal. A sua origem judia já a expressara, em 1994 com o aclamado “A lista de Schindler”, uma homenagem de Spielberg ao empresário Oskar Schindler que durante a II Guerra Mundial empregava trabalhadores judeus que assim escapavam a ser enviados para os campos da morte nazis, só que agora foi mais longe, mostrando o anti-semitismo de uma América racista e o bullying de que foi vitima.
O seu primeiro filme “Duel” (Um Assassino Pelas Costas, 1972), um telefilme a que foram adicionadas algumas cenas para passar nos cinemas, dissipou quaisquer dúvidas sobre o talento de Spielberg, dúvidas rapidamente dissipadas para se perceber que estávamos na presença de um mestre, com “Tubarão” (Jaws, 1975) e “Encontros Imediatos do 3º Grau” de 1977. E, desde “Tubarão”, a sua boa estrela jamais deixou de brilhar. Filmes como “Salteadores da Arca Perdida”, 1981, “Indiana Jones e o Templo Perdido”, 1984, “Indiana Jones e a Grande Cruzada”,1989, “Hook”, 1991, “Jurassic Park”, 1993, “A Lista de Schlinder”, 1993, “Amistad”, 1997, ou “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1998, foram extraordinários êxitos de bilheteira, a que podemos juntar os muitos que produziu através da Dreamworks, de “Quem Tramou Roger Rabbit”, a “Os Goonies”, ou “O Cabo do Medo”, dão-nos uma ideia da obra deste verdadeiro mago de Hollywood, que se pôde dar a luxo de rejeitar os projectos “Harry Potter” ou “O Homem Aranha” para se aventurar numa não muito conseguida adaptação de Philip K. Dick em “Minority Report” de 2002.
É notória em Spielberg a facilidade em abordar géneros tão diferentes que vão de adaptações de obras de ficção científica, “Relatório Minoritário” e “A Guerra dos Mundos”, aliás já aflorara o género em “AI - Inteligência Artificial”, e dos divertidos “Apanha-me se Puderes”, “Terminal de Aeroporto” e da sua incursão no pós massacre dos Jogos Olímpicos de 1972 com “Munique”, de 2005, ou como aconteceu com “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, Spielberg volta, não às origens, mas a um dos seus heróis mais queridos e os 65 anos Harrison Ford voltou a encarnar Indiana Jones, o super-herói sem poderes, num filme onde está tudo o que um filme de aventuras deve ter: maus, à grande, desta vez são soviéticos, a Guerra Fria, e uma surpreendente agente russa, Cate Blanchett; romance, no caso o reencontro do amor vinte anos depois, Indy e Marion e, claro, muita acção que afinal é o que queremos ver nos filmes de Spielberg. Não contente com isso, prepara-se para trazer Harrison Ford de volta. É obra!
Nos últimos anos, como não podia deixar de ser, diversificou e passeou-se por temas e épocas. Revisitou a América dos pais fundadores em “Lincoln”, 2012, antes uma incursão na animação em “As Aventuras de Tintin - O Segredo do Licorne” (foi anunciada uma segunda película dirigida por Peter Jackson mas até hoje nada), voltou à ficção científica e aos mundos da realidade virtual em  “Ready Player One”, 2018, depois de uma passagem pelo jornalismo e a liberdade de imprensa em “The Post”, 2017 e um remake de “West Side Story”, o musical de 1961, com música de Leonard Bernstein.

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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