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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Bocas do Galinheiro Scorsese na corrida para os Oscar

20-11-2023

Efusivamente aplaudido em Cannes com uma longa ovação, o último filme de Martin Scorsese, Assassinos da Lua das Flores, é seguramente um dos favoritos às nomeações para os Óscares da Academia do próximo ano, uma realidade que não é nova para este cineasta, uma vez que já arrecadou na sua longa carreira já arrecadou inúmeros galardões, sendo que o seu enfrentamento com as estatuetas de Hollywood não é o mais triunfante. Iniciou-se n cinema em 1959, com algumas curtas metragens, dirigindo a primeira longa em 1967, Quem Bate à Minha Porta?, a que se seguiram os aclamados Os Cavaleiros do Asfalto (1973) a primeira colaboração com De Niro, ou o incontornável Taxi Driver (1976), de novo com De Niro, nomeado para melhor actor, que tal como o filme, não foram contemplados, nomeações que repetem em 1980 com O Touro Enraivecido, com o mesmo final  para Scorsese, aqui também como melhor realizador, que igualmente não ganhou, tendo Robert de Niro levado a estatueta de melhor actor.  Depois de várias nomeações, quer como realizador quer para melhores filmes, arrecadou o primeiro Oscar em 2006, por The Departed – Entre Inimigos, protagonizado por Robert De Niro e Leonardo Di Caprio, que mais uma vez contracenam nesta seu mais recente obra. Porém, apesar de as suas prestações individuais não serem muito consideradas pela Academia, o mesmo não aconteceu com os actores que dirigiu, outros deles merecedores da estatueta dourada, desde logo Paul Newman por A Cor do Dinheiro (1986), Cate Blanchett, em O Aviador (2004), melhor actriz secundária, o mesmo para Joe Pesci em Tudo Bons Rapazes (1990).

Neste seu Assassinos da Lua das Flores, Scorsese inspira-se na obra homónima do jornalista norte-americano David Grann, que relata, a mando de um rico proprietário branco, o assassinato de índios da Nação Osage na década de 1920. A descoberta de petróleo no seu território no Oklahoma, fez com este povo indígena enriquecesse, fazendo recair sobre eles a atenção, mas também a ganância dos brancos, habituados até aí a olharem para os índios como um povo inferior, ou seja, o factor racismo é um dos ângulos desta trama, a que se segue a aniquilação de vários membros desta comunidade num plano malévolo arquitectado por William Hale, interpretado por Robert de Niro que, publicamente aparecia como um protector, amigo e, inclusive, respeitado por aquele povo, mas que na sombra, qual teia mafiosa (são notórias as afinidades dos métodos adoptados por estes brancos com as mortes por encomenda noutros filmes de Scorsese), os mandava aniquilar, maquinando um esquema de casamentos entre brancos e índias que inelutavelmente levava à morte das mulheres e à consequente passagem das terras para o homem o que, em última instância, iria aumentar os lucros e o poderio do mandante. Uma operação que foi um verdadeiro genocídio e limpeza étnica, fruto de uma ambição sem escrúpulos, desmedida e um aproveitamento obsceno da ingenuidade daquela Nação.

Não hesitando em envolver a família na conjura, Hale convence um sobrinho regressado da Grande Guerra, cujo principal atributo não era a inteligência, Ernest Burkhart, interpretado por Leonardo DiCaprio, a casar com uma bela e rica nativa, Mollie Kyle, papel entregue, e bem, a Lily Gladstone (merecedora de reconhecimento dos prémios de interpretação), ela própria uma nativa americana, com o fito de o casamento acabar com a morte de Mollie e restante família. Hale envolve Ernest em vários assassinatos, incluindo o da mulher, apesar de o casal manter uma relação amorosa genuína, perturbada pelo temor reverencial e obediência do sobrinho ao tio e da influência deste, o que o leva a trair a própria família.

A entrada em cena do ainda não chamado FBI, já com J. Edgar Hoover aos comandos, face às misteriosas e sucessivas mortes dos nativos, leva a uma investigação que tem de contornar e derrubar a corrupção e os poderes instalados entre os brancos racistas e levar os responsáveis à justiça.

Num quase épico de três horas e meia, com argumento de Scorsese e de Eric Roth, com a colaboração do próprio David Graan, a centralidade é posta na relação de Mollie e Ernest, e da contradição do comportamento deste entre a dedicação à família e a “missão” de que o tio o encarregou. De um lado a dignidade de um povo nativo, do outro a ambição e a violência que o branco por interposto Ernest exerce sobre esse mesmo povo, os Osage que, apesar da ameaça, não perde a sua dignidade. Uma obra que se vê com prazer, uma prova de que Scorsese mantém toda a sua vitalidade e mestria.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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