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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Bocas do Galinheiro Barbenheimer

15-09-2023

O cinema descobriu um jargão muito ao jeito da silly season; barbenheimer. Perante o extraordinário êxito de bilheteira de dois filmes improváveis e inesperados, ou não, blockbusters de Verão, Barbie, de Greta Gerwig e Oppenheimer, de Christoper Nolan, que não param de bater recordes em receitas, mais o primeiro, com o desafio de que em Portugal estrearam no mesmo dia, o que aconteceu noutras latitudes. Se a coisa já estava neste pé, para ajudar à festa sai o inusitado e surpreendente anúncio de que está em produção a fita Barbenheimer, do estúdio Full Moon Features, que vai fundir as duas personagens. Pela curiosidade que vai despertar poderá atrair gente às salas, isso é quase certo. Daí até ter pernas para singrar será outra história.

O êxito dos dois filmes só surpreenderá os mais distraídos. Os números são avassaladores, Barbie é o filme mais lucrativo de 2023, e já ultrapassou outros históricos com receitas de milhões e que Oppenheimer lhe faz marcação cerrada, é inegável, mas o que se pode dizer dos dois realizadores e respectivos filmes?

Christoper Nolan, que se iniciou na realização em 1989, com Following, filmado em 16 m/m, tem uma filmografia sólida e recheada de grandes êxitos, desde logo Memento, de 2000; a sua incursão no mundo de Batman, com The Dark Knight, seguramente o melhor a trilogia que dedicou a este super-herói; uma aproximação ao filme negro em Insomnia (2002), um remake de um filme norueguês como mesmo nome, num enfrentamento entre os dois protagonistas, Al Pacino e Robin Williams, no Verão do Alasca onde a luz do dia dura vinte e quatro horas. Na sua não muito extensa filmografia, contam-se ainda obras como Inception (2010), Interstellar (2014), Dunkirk (2017), ou Tenet (2020), um exercício alucinante à volta da manipulação do tempo.

Este Oppenheimer não fica nada a perder em comparação com as suas obras anteriores. Longe de um biopic do inventor da bomba atómica, é um ensaio sobre a frágil natureza humana e a capacidade de se superar pela realização de feitos que alguns nem sonhar arriscam. Uma sólida interpretação de Cillian Murphy (que trabalhou com Nolan noutros filmes, nomeadamente na trilogia de Batman) de uma personagem inquieta, quem sabe a espreitar os oscares.

Por seu lado a actriz e realizadora Greta Gerwig, apesar de ter apenas dirigido quatro longas-metragens (a sua filmografia como actriz é bastante mais maciça), alcançou assinalável êxito com Lady Bird (2017) sobre a passagem da adolescência para a idade adulta, os conflitos interiores, os primeiros namoros, os desafios com que se vai deparar a jovem Christine "Lady Bird" McPherson (Saoirse Ronan) e Little Women (2019), uma adaptação da obra de Louisa May Alcott, com várias versões anteriores, sendo que  Greta imprime uma leitura feminista aos dois filmes, visão que pretendeu estender a este Barbie, através de uma abordagem mais irónica, que motivou discussão sobre as verdadeiras motivações da cineasta. O certo é que estamos perante uma obra/ideia ousada: pegar numa boneca, dar-lhe vida e pôr em causa os dois mundos, o Barbie Land e o real, o dos seus criadores, e que despertou gerações para a febre cor-de-rosa. Se a isso juntarmos as interpretações de Margot Robbin e de Ryan Goslin, em Ken, estará aqui uma ajuda para explicar os milhões que o filme já fez. Mas também a Mattel, a fabricante de Barbie, viu os seus lucros crescerem, à boleia de alguma femvertising, a cargo de grandes grupos de pronto a vestir. Mas disso, julgo não poder a autora ser acusada, apesar de imaginarmos que teve de fazer algumas concessões para contentar os produtores.

Até à próxima e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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