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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Elvis versus Parker Elvis versus Parker

11-07-2022

Na minha adolescência em Moçambique, na então Lourenço Marques, frequentava as matinés do Avenida, onde passavam os filmes do Elvis. Eram garantidas tardes de animação, com a malta a bater os pés ao som da batida do Rei do Rock. Filmes para adolescentes de puro entretenimento, o que para nós era mais que suficiente. Quantas mais músicas o Elvis cantasse, melhor era o filme o Elvis e a tarde estava ganha. De muitos deles nem me lembrava do nome, até que há pouco tempo andaram a passar alguns num canal do cabo. Não foi a mesma coisa. Ver filmes em casa não tem a magia da sala de cinema, tão pouco a atmosfera que na altura conseguíamos criar, para desagrado do arrumador que em vão tentava pôr ordem na sala.
Elvis Presley, nascido a 8 de Janeiro de 1935, em Tupelo, Mississippi, nos Estados Unidos, ficou na história como o Rei do Rock. Porém, sonhava ser uma estrela da sétima arte, tal como James Dean, que venerava, quer pelas suas interpretações na tela, quer pela imagem que passava para o público, como um rebelde, amante de carros velozes, à imagem de um dos seus filmes mais famosos, “Fúria de Viver” (Rebel Without a Cause, 1955), de Nicholas Ray, ao lado de Natalie Wood, outra das paixões do Rei. Ao longo da sua carreira protagonizou dezenas de filmes, onde a figura do rebelde está muitas vezes presente, exponenciando um certo sex-appeal, num menear de ancas característico, que usou até o final da carreira nos seus concertos. Porém, não conseguiu ser uma estrela ao nível dos seus modelos, principalmente pela perversa figura do Coronel Tom Parker, que nem era coronel nem se chamava Parker, era um emigrante ilegal holandês que foi para os Estados Unidos com 20 anos, agente de Elvis, que para além de controlar os aspectos contratuais da carreira do cantor, geria igualmente as suas opções, partindo dele as decisões quanto aos filmes em que entrava, bem como, já do ponto de vista musical, ter limitado as suas actuações aos Estados Unidos.
Todavia, apesar deste nepotismo de Parker, Elvis acaba por ter alguns filmes de destaque, desde logo “O Prisioneiro do Rock and Roll” (Jailhouse Rock, 1957),o seu terceiro filme, realizado por Richard Thorpe, ao lado de Judy Tyler, tragicamente falecida num acidente de automóvel três dias depois de terminadas as filmagens, onde interpreta o rebelde Vince Everett, transformado em estrela musical, sendo que o tema do filme, Jailhouse Rock, interpretado por Elvis e pela sua banda, é considerado um dos grandes temas de Rock and Roll, tendo sido gravado por diversos grupos e cantores ou “Amor em Las Vegas” (Viva Las Vegas,1964), dirigido por George Sidney, em que contracena com Ann-Margret, uma actriz consagrada e popular, o maior êxito de bilheteira do astro, filme em que é piloto de corridas, e em que o tema Viva Las Veja, é presença habitual nas listas dos mais vendidos, sob o mote de um tórrido romance entre os dois.
Voltaria ao mundo das corridas em 1968 ao lado de Nancy Sinatra, essa mesmo, também cantora, mas cinematograficamente muito abaixo de Viva Las Vegas, apesar da direcção de Norman Taurog e de alguns êxitos musicais, como aconteceu sempre nos filmes de Elvis e, tal como com Ann-Margret, um dos temas ser também cantado por Nancy, como era espectável.
Nem sempre as escolhas de Elvis e do insaciável coronel foram as melhores. Filmes como “Hawai Azul, (Blue Hwaii,1961), “Amor em Acapulco (Fun in Acapulco, 1963) ou “Raparigas! Raparigas! Raparigas!” (Girls! Girls! Girls!,1962), entre outros, alguns também filmados no Hawai, apesar do êxito de bilheteira e recordes de vendas, as bandas sonoras e muitos temas são igualmente de referência, deitam abaixo a sua imagem de rebelde roqueiro. Mas, como bom americano ainda tem uma passagem pela tropa em “Café Europa” (G.I. Blues, 1960), também de Taurog, um dos realizadores com que mais trabalhou, sendo que um dos seus melhores filmes, “Balada Sangrenta” (King Creole, 1958), foi dirigido por Michael Curtiz, já no final da sua carreira. Lembrar ainda que um dos seus maiores hits, Love Me Tender”, faz parte do seu primeiro filme com o mesmo nome de 1956.
Não é este caminho que o australiano Baz Luhrmann, realizador de, entre outros, “Moulin Rouge” e “Romeu+Julieta”, retrata no seu biopic “Elvis”, mas sim a turbulenta relação do cantor com o seu ganancioso manager, o coronel Tom Parker numa surpreendente interpretação de Tom Hanks, mas sobretudo a ascensão e queda de um ídolo, devorado pela sociedade de consumo. Mas, acima de tudo, Luhrmann vem contar a história de Elvis Aaron Presley, interpretado por Austin Butler, um jovem de origem humilde que vingou no mundo da música, principalmente pelas suas influências com o rhythm & blues e o gospel, sem esquecer o Elvis The Pelvis, das grandes coreografias a que o realizador não resiste.
Até à próximo e bons filmes!

Luís Dinis da Rosa

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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