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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Livros & Leituras

18-03-2024

Tal Como És (Assírio & Alvim), de Ryokan (1758 – 1831), o mais acarinhado e popular monge-poeta e calígrafo japonês, aqui traduzido directamente do original por Marta Morais, nesta antologia, com introdução e posfácio da tradutora, daquele que deixou escrito: “quem diz que os meus poemas são poemas?/ estes meus poemas não são poemas/quando perceberem que os meus poemas não são poemas/então, juntos, e pela primeira vez, poderemos falar de poesia”.
Meditações (Penguin Clássicos), de Marco Aurélio, o imperador-filósofo romano, que viveu entre os anos de 121 e 180, anotou estes pensamentos, escritos para seu próprio consolo, como bom seguidor do estoicismo. “Para o ser racional, a mesma acção está de acordo com a natureza e de acordo com a razão”. Introdução de José Pedro Serra e tradução do original grego de Rui Carlos da Fonseca.
As Lições dos Mestres (Gradiva), de George Steiner (1929 – 2020), é um livro fascinante onde é abordada a relação ambígua entre mestre e discípulo, entre quem é detentor de um saber que pretende transmitir, sem que isso implique uma dependência, ou um desejo de traição, mas antes surja de uma relação de simpatia e confiança recíprocas, única forma de aprendizagem, que forme e não deforme, com exemplos históricos de Sócrates, Virgílio, sábios confucionistas e budistas e outros.
Apologia dos Ociosos e Outros Ensaios (Relógio d´Água), de Robert Louis Stevenson (1850 – 1894), reúne um conjunto de escritos do autor escocês, aclamados por Nabokov, Wiliam James ou Borges, como sendo “as observações mais inteligentes que já foram escritas sobre literatura”, e que são uma delícia de leitura, com intuições sagazes sobre autores, estilos e géneros literários, onde se destaca o ensaio sobre o papel dos sonhos.
Miséria e esplendor da Tradução (Guerra & Paz), de José Ortega y Gasset (I883 – 1955), com tradução e introdução de Pedro Ventura, reúne uma série de artigos publicados em 1937, onde o filósofo espanhol argumenta com supostos confrades franceses, ao jeito de diálogos socráticos, sobre linguagem, fala e tradução, com o brilhantismo incomparável do autor de “A Rebelião das Massas”. “Ao falar, somos humildes reféns do passado”.
Tisanas (Assírio & Alvim), de Ana Hatherly (1929 – 2015), com edição e posfácio de Ana Marques Gastão, reúne a obra iniciada em 1969, ainda com a autora ligada à poesia experimental, evoluindo no estudo do Zen e dos seus paradoxos, e de outros saberes, fazendo da “tisanas”, uma “infusão” diarística, ou “meditação poética sobre a escrita como pintura e filtro da vida”, micronarrativas e anotações de fundo literário, filosófico, científico, artístico e espiritual, sem paralelo nas letras portuguesas.
As Flores do Riso (Presença), de Osamu Dazai (1909 – 1948), é a prequela de “Um Homem em Declínio” (na mesma editora), uma história de um suicídio falhado, ou talvez não, pondo em cena um autor que não crê em si mesmo, através das personagens que acompanhamos num enredo entre a farsa e a comicidade desesperada de uma de vida sem sentido.
MANIAC (Relógio d´Água), de Benjamín Labalut (n. 1980, Roterdão), baseia-se na vida do matemático John von Neumann, nascido em Budapeste, que previu as bases da computação, sem antever as suas nefastas consequências prometaicas, num registo polifónico, dando voz aos que com ele conviveram, numa envolvente pesquisa sobre os limites da ciência, num livro extraordinário, em que o poder da mente lógica, levada a extremos se sabota a si mesma, dando origem a um delírio não racional.
O Cavaleiro Inexistente (D. Quixote), de Italo Calvino (1923 – 1985), é uma deliciosa paródia dos romances de cavalaria, tendo figura central as aventuras de um cavaleiro que é só armadura, contada por uma freira que também é parte da história, um jovem em busca dos cavaleiros do Santo Graal, um escudeiro trapalhão, num universo de batalhas, disputas de honra, num conto mirabolante e de uma fantasia cáustica e hilariante.
O Dia da Coruja (Presença), de Leonardo Sciascia (1921 – 1989), requintada novela, na qual a realidade siciliana é retratada sem sofismas, tendo como protagonista o capitão Bellodi, investigando a morte de várias pessoas, num enredo que envolve um “capo” local e personagens da política nacional. Como assinala o autor em nota final, “em suma, a máfia mais não é do de que uma burguesia parasitária, uma burguesia que não empreende, mas apenas desfruta”.
Os Feitos do Rei Artur (Livros do Brasil), de John Steinbeck (1902 – 1968), com o subtítulo “E dos seus nobres cavaleiros”, obra póstuma, publicada em 1976, escrita pelo fascínio sentido pelo ciclo arturiano e demanda do Graal, baseando-se em “A Morte de Artur”, de sir Thomas Malory. ”Eu conto estas histórias antigas, mas elas não são o que quero contar. Só sei como quero que as pessoas as sintam quando as conto”.
Trono (ASA), de Franco Bernini (n. 1954, Viterbo), com o subtítulo “A história de Maquiavel”. César Bórgia prepara-se para invadir Florença, e Maquiavel então com 33 anos, que domina a arte da escrita mas está cheio de dívidas e que trai a mulher, é enviado para descobrir os planos do inimigo, e aí começado um enredo cheio de enganos e vinganças, recolhendo deste modo a experiência que acabaria por ser a fonte de “O Príncipe”.
História(s) do Estado Novo (Clube do Autor), de Marcelo Teixeira, com o subtítulo “As palavras, os factos e as figuras que marcaram o regime ditatorial português” , abrange os anos de 1933 a 1974, reunindo os acontecimentos, as palavras e as personagens deste período da História nacional que não devem ser esquecidos, mas bem relembrados.

José Guardado Moreira
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