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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião Rankings, o engano dos sonhos

Ano após ano, a comunicação social, a partir de dados disponibilizados pelo Ministério da Educação, publica diferentes tabelas classificativas das escolas portuguesas. Os resultados apresentados têm em conta os critérios que cada órgão de comunicação adotou, sendo por isso diferentes uns dos outros. Esta hierarquização das escolas, da forma como é feita, levanta questões diversas e cria demasiado ruído junto dos leitores, ouvintes ou telespetadores.
Neste processo, a que denominaria “Rankings, o engano dos sonhos”, a arte de informar com rigor e clareza fica comprometida, por não haver uma análise objetiva que tenha em conta todas as variantes. Ao escolherem umas em detrimento de outras, mesmo informando o leitor dessa ressalva, está-se a criar na opinião pública imagens que podem ser distorcidas da realidade. E quando falamos da educação e qualificação de todos nós, o perigo é maior.
Nesta viagem compara-se o que não pode ser comparado, não se têm em conta as diferenças sociais, geográficas e pedagógicas, nem a dimensão das escolas, o corpo docente e não docente, as infraestruturas escolares, etc etc. De forma clara e objetiva colam-se rótulos, de melhores e piores. Simples. As alcunhas ficam. As imagens que cada um interioriza sobre esta ou aquela escola, sobre o ensino público versus o privado, parecem revelar-se claras, mas acabam por estar contaminadas.
Os rankings das escolas, como são feitos e divulgados, não traduzem o trabalho que é desenvolvido no meio escolar. Mas afinal qual é a melhor escola?, pergunto. Será melhor escola aquela que, num contexto escolar, social e económico adverso, localizada numa região deprimida ou num bairro problemático de uma qualquer cidade, consegue obter resultados escolares e sociais positivos, recuperando muitas vezes situações que pareciam impossíveis de ter solução? Será a escola inserida num cenário sócio económico positivo, em que os pais dos alunos até têm possibilidade de pagar explicações aos seus filhos? Será aquela que não tendo os melhores meios tecnológicos nem um bom acesso à internet não deixou ninguém para trás nestes anos de pandemia? Será aquela que está situada num território de baixa densidade, que recebe alunos que saem de casa às seis da manhã para ir estudar e só regressam à noite, mas que ainda assim lhes consegue dar mundo? Será a escola privada que consegue garantir todo o acompanhamento escolar (letivo e não letivo)?
Estas classificações ordenadas de acordo com determinados critérios (conceito de ranking) podem facilmente levar ao engano, ao engano do sonho de termos uma escola motivada, com professores, funcionários, pais e alunos empenhados em ensinar, educar e aprender. Uma escola de todos para todos, respeitada, com responsabilidade, rigor e audácia, que se consiga rejuvenescer e adaptar aos novos tempos…

João Carrega
carrega@rvj.pt