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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Opinião A ciência do espaço para um mundo melhor

Atravessamos momentos difíceis com perspetivas pouco animadoras no que às alterações climáticas diz respeito e sem termos a noção concreta do que poderá acontecer no futuro. A ciência assume, neste contexto, um importante papel no sentido de mobilizar a comunidade para um debate que, não sendo novo, continua a ser atual e do qual depende o futuro das próximas gerações. Vem isto a propósito do Manifesto de Matosinhos, aprovado, por unanimidade, no último mês, pelos Ministros responsáveis pela área do Espaço dos países com assento na Agência Espacial Europeia (ESA).
O documento tem como objetivo “acelerar a utilização do Espaço de forma a criar soluções para responder aos desafios sociais, económicos e de segurança que a Europa e os seus cidadãos enfrentam”.
O desafio, ousado, não é fácil e passa pela implementação de três aceleradores para o setor espacial, a saber: a) “Espaço para um Futuro Verde” que visa ajudar os cidadãos europeus na criação de cenários e soluções para uma vida sustentável na Terra através de um digital twin do planeta, desenvolvido pela ESA; b) “Resposta Rápida e Resiliente à Crise” que prevê ser um apoio aos países europeus na resposta a catástrofes e fenómenos naturais, de inundações a incêndios florestais, sem prejuízo das competências soberanas dos Estados-Membros e da União Europeia; c) “Proteção de Ativos Espaciais” tem em vista a salvaguarda dos ativos europeus de detritos espaciais e interferências do clima espacial.
A estes vetores juntam-se outros dois de caráter inspirador com vista a reforçar a liderança europeia em termos científicos e tecnológicos: uma missão de recuperação de amostras de luas geladas e a exploração espacial humana.
Josef Aschbacher, diretor Geral da ESA, reconhecendo a importância daquele encontro, considera que aqueles pressupostos “vão colocar a Europa na vanguarda da utilização plena do espaço pelos seus cidadãos, criando oportunidades económicas. Isto dá à ESA um mandato claro a caminho da Cimeira Espacial Europeia”. Também o presidente da Agência Espacial Portuguesa - Portugal Space, Ricardo Conde, sublinhou a ideia de que “se o Espaço é o lugar onde projetamos as nossas ambições coletivas, não podemos negar que essas ambições passam por resolver as problemáticas que, a cada dia, vão comprometendo cada vez mais a vida no nosso planeta”.
O manifesto de Matosinhos pretende, através da ciência, dar contributos para a resolução de um problema complexo que ultrapassa fronteiras e que está em constante choque com o fator económico e a sobrevivência, permanente, de milhões de pessoas. Manuel Heitor, ministro português da Ciência e Ensino Superior, explica que “a grande escala da natureza e o ritmo acelerado da crise climática e de outros desafios significam que nenhuma nação europeia será capaz de os enfrentar de forma eficaz sozinha”.
A Europa deu mais um passo para, através da ciência, contribuir para enfrentar um dos maiores desafios com que o mundo se depara. E que bom seria que noutras latitudes esta perspetiva também fosse seguida, sem fanatismos, mas com a objetividade necessária. Não é uma tarefa fácil. Mas também não é impossível...

João Carrega
carrega@rvj.pt