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Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

Editorial A pedagogia dos receituários

12-12-2022

Porventura será lugar-comum afirmar-se que a escola sofreu, ao longo das últimas décadas, transformações profundas. Porém, não é menos apropriado anotar que poucas novidades se observam quando, no presente, entramos novamente numa sala de aula.

Na verdade, não se revela difícil aceitar as vozes mais críticas a um certo tipo de escola que muitos consideram demasiado racional, tecnológica, superespecializada e impregnada de estereótipos administrativos e corporativos. Sobretudo quando nessas instituições educativas se instala no mundo interior dos docentes um efeito cuja perversão ainda está por medir: pese embora tudo o que aconteça na realidade diária, os professores estão convencidos de que a sua profissionalidade e a sua qualidade de trabalho dependerá, mais que tudo, das suas competências operacionais, do saber fazer, aptidões que os conduzem à aplicação de técnicas ensino tradicionais, através das quais julgam que conseguirão produzi a aprendizagem dos seus alunos.

É a pedagogia dos receituários, da qual se tornam dependentes, e que guia a acção desses docentes, os quais se sentem inseguros quando solicitados a introduzir nas suas aulas metodologias inovadoras.

Para que a Escola entre, neste terceiro milénio, numa via de transformação positiva, urge que professores e educadores aceitem alguns desafios. Desde logo, importa nivelar o estatuto da pedagogia oficial com o do conhecimento prático dos docentes. Depois, exige-se o rápido reconhecimento da maioridade dos profissionais do ensino. Reconhecimento esse que propicie a conquista da autonomia para pensar o próprio pensamento, autonomia para reflectir sobre o conhecimento elaborado, autonomia para construir novo pensamento, com base no conhecimento e na maturação da própria acção docente.

No fundo, encontramo-nos perante um desafio, lançado aos práticos, para que conquistem, dentro das escolas, todas as possibilidades que lhes permitam a elaboração de conhecimento, através do qual sustentem e teorizem essa mesma prática.

É que a separação entre pensamento e acção implica que a educação não seja mais uma preparação para agir. Implica a aceitação de dois ensinos distintos: um especulativo, o outro prático, um fornecendo o espírito e o outro a letra, um o método, o outro os resultados. E tudo isto nos empurra para o sublinhar de uma das maiores contradições que nos podem ser imputadas a nós, educadores: a incapacidade para integrar na nossa prática quotidiana, de um modo coerente, o que pensamos e o que fazemos.

João Ruivo
Diretor Fundador ruivo@ipcb.pt

Este texto não segue o novo Acordo Ortográfico

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