Elizabeth Finch (Quetzal), de Julian Barnes é um manjar dos deuses para pobres mortais. Finch é uma professora de Cultura e Civilização que deixa ao narrador os seus cadernos de notas e a biblioteca. O encargo não é claro, uma vez que esta extraordinária mulher tinha um modo peculiar de despertar nos estudantes interrogações das quais nem sequer desconfiavam. Tendo o imperador Juliano e os estoicos por guia, e o desprezo por todas as formas de monoteísmo, deixou um legado que perdurou como um enigma a ser decifrado, ou não. Um romance brilhante sobre como ser e pensar livre.
Crónicas de Sebastopol (Guerra & Paz), de Lev Tolstói, reúne a experiência do então jovem oficial, na Guerra da Crimeia, que opôs o exército russo do czar à potências ocidentais e aos otomanos. A queda da cidade foi uma derrota cruel, como se constata por estes relatos de 1854-55, onde desponta a arte do grande romancista que havia de florescer nos anos seguintes. Misto de ficção e reportagem de guerra, o que mais sobressai é o horror pela guerra e os seus desastres pessoais. A estupidez, a vaidade ou a vão glória são dissecados sem mercê pela pena do escritor.
Granta nº 9 (Tinta-da-china) é dedicada ao tema “Rússia”, com um conjunto de ensaios e ficções sobre a cultura e a paisagem daquele país, desde um diário de José Pacheco Pereira aos contos de Tatiana Tolstaya. Ludmila Ulitskaya e Amor Towles. António Pescada escreve sobre Púchkin e Ana Matoso sobre Mandelstam, entre outros textos que fazem deste número da revista uma janela sobre a questão russa tão actual.
Os Pianos Perdidos da Sibéria (Temas e Debates/Círculo de Leitores), de Sophy Roberts é o relato improvável de uma região, a Sibéria, ou de como a música é capaz de introduzir um pouco de beleza em clima e paisagem tão inóspita. Desde o século XVIII à actualidade, esta viagem conta histórias que não se esquecem. Como assinala Simon Sebag Montefire. “Uma demanda quixotesca, uma aventura picaresca e uma história estranha esquecida, envolvidas num livro deslumbrante”.
A Outra Veneza (Quetzal), de Predrag Matvejevitch (1932 – 2017), autor do celebrado Breviário Mediterrânico (na mesma editora) descreve a cidade dos Doges com um olhar distinto dos guias para turistas apressados, antes deambula pela velha cidade em busca do inesperado e do desconhecido, do que se perdeu na memória e do que ainda está vivo para além das aparências e dos bilhetes-postais. Um livro que dá vida a uma cidade que todos presumem conhecer, mas que se esconde para melhor se preservar das fatalidades do tempo.
O Rinoceronte e o Poeta (Tinta-da-china), de Miguel Barrero (n.1980, Oviedo), apresenta-nos Eduardo Espinosa, um académico espanhol sexagenário, apaixonado pelo nosso país e pelo poeta dos heterónimos. Numa das suas frequentes visitas a Lisboa, cidade de que sente como sua, antes de visitar o seu amigo e congénere lusitano, de seu nome Gonçalves, com quem forjara ao longo dos anos uma forte amizade literária, dedica-se ao solilóquio. Será que haveria alguma relação entre o célebre rinoceronte do rei D. Manuel e a figura do poeta crescido em Durban? O que não esperava era a revelação bombástica que Gonçalves lhe reservara. Uma divertida incursão na história e na mitologia lusitana.
Prosa (Assírio & Alvim ), de Eugénio de Andrade, reúne três livros publicados e diversos dispersos, incluindo um bom número de entrevistas do poeta nascido na Beira Baixa, onde ressaltam as sua afinidades poéticas, sejam elas nacionais quer internacionais, onde se destaca a sua relação de amizade com tantos poetas espanhóis. Além disso, a profunda dívida para com os clássicos desde a antiga Grécia, até ao Oriente, está bem patente nas suas observações sobre a poesia que foi beber aos portugueses que o antecederam. Como assinala Federico Bertolazzi no prefácio : “estas prosas descrevem a sua topografia cultural e humana, feita da geografia dos espaços e dos sentimentos”, contribuindo para “ a definição de um mundo interior” – “Aqui aprendemos que o poeta, cuja “sabedoria é uma segunda inocência” é realmente o “imperador da sua alma”.
Maina Mendes (Assírio & Alvim), de Maria Velho da Costa, reedição do romance publicado em 1969 que, nas palavras de Eduardo Lourenço, no “Prefácio” o define assim: “Nenhum dos nossos livros contemporâneos redistribui com tanto sucesso as experiências mais criadoras da prosa portuguesa, de Fernão Lopes a Guimarães Rosa, paisagens atravessadas e recriadas, a par de outras, com uma originalidade absoluta”.