Este website utiliza cookies que facilitam a navegação, o registo e a recolha de dados estatísticos.
A informação armazenada nos cookies é utilizada exclusivamente pelo nosso website. Ao navegar com os cookies ativos consente a sua utilização.

Diretor Fundador: João Ruivo Diretor: João Carrega Ano: XXVII

1ª Coluna Portugal, um país de mulheres inventoras

15-11-2022

Portugal tem a segunda maior percentagem de mulheres inventoras da Europa. Os 26,8% registados pelo Instituto Europeu de Patentes (IEP) estão muito acima dos 13,2% que correspondem à média europeia. Os dados referem-nos também que o Alentejo é a região da Europa onde se regista a maior percentagem de mulheres inventoras (34,9%).
O estudo agora divulgado analisa os pedidos de patentes entre 1978 e 2019 nos países que integram o Instituto Europeu de Patentes. Os números vêm ao encontro daquilo que é a presença de mulheres investigadoras na ciência e nas instituições de ensino superior e de investigação nacionais (públicas e privadas) que mais uma vez é quase o dobro, em percentagem, da média europeia. Com efeito, há 36% de mulheres investigadoras e inventoras nas instituições portuguesas, enquanto que na Europa a média é de 19,4%. O relatório indica, contudo, que no setor privado o número de patentes submetidas por mulheres é de 19,4%.
Portugal tem no seio da comunidade académica e científica um conjunto de investigadoras que muito têm contribuído para o desenvolvimento da ciência. A área da química é aquela em que temos mais mulheres inventoras (42,3%), quando a média europeia é de 22,4%. Em contrapartida, as engenharias apresentam uma presença feminina menos evidente.
Elvira Fortunato, ministra da Ciência e do Ensino Superior, é um dos rostos mais respeitados entre os cientistas portugueses e no panorama internacional. Venceu os prémios Horizon Impact da Comissão Europeia e Pessoa (ambos em 2020), entre muitos outros. O seu nome foi apontado para vencer o Prémio Nobel nesse mesmo ano. É pioneira na investigação europeia sobre eletrónica transparente utilizando materiais sustentáveis e tecnologias amigas do ambiente. Hoje, nas novas funções, considera os dados “como muito relevantes da capacidade das mulheres portuguesas investigadoras, da sua criatividade associada a uma elevada resiliência e persistência”.
O exemplo de Elvira Fortunato pode ser reforçado com o de outras cientistas portuguesas, como Carla Gomes, finalista do Prémio Europeu do Inventor 2022, pela invenção de um sistema de ilhas fotovoltaicas flutuantes, criado em parceria com o investigador Nuno Correia.
O caminho das mulheres na ciência e no ensino superior hoje é bem mais evidente e vem ao encontro de um esperado equilíbrio entre homens e mulheres. Mas no passado, em períodos em que a voz feminina não contava, Portugal também teve as suas cientistas e inventoras que muito contribuíram para o desenvolvimento da ciência. Falo, por exemplo, de Adelaide Cabete, médica ginecologista e responsável pela criação da Maternidade Alfredo da Costa (1867-1935); da bióloga Matilde Bensaúde, pioneira nesta área (1890-1969); da física Branca Edmée Marques, discípula de Marie Curie e que foi a grande percursora no estudo da radioatividade em Portugal; Lídia Salgueiro que se destacou na física experimental e física atómica (1917-2009); Maria de Lurdes Pintasilgo, a engenheira química que foi a primeira e única mulher a exercer o cargo de Primeira-Ministra em Portugal (1930-2004) ou ainda Odete Ferreira, investigadora na área de virologia, sendo precursora na luta contra a SIDA (1925-2018).
Os números evidenciam a evolução que o país teve enquanto nação mais igualitária, ainda com uma democracia de meia-idade, mas que permite comemorar o Dia da Ciência, a 24 de novembro, de uma forma livre e plural, na certeza que a ciência, nas suas mais variadas formas, não pode encontrar no ‘género’ qualquer tipo de obstáculo à descoberta, à inovação e ao pioneirismo.

João Carrega
Diretor carrega@rvj.pt
Voltar